Xuxa e sua fama (até na espanha)

É bom descobrir que o Brasil exporta boa música como a bossa nova, que somos lembrados  não apenas por nossas mazelas, que muita gente sonha em conhecer o Brasil e que  nossos Reis e  Rainhas são conhecidos no mundo todo. Mas falando em Rei e Espanha... porque não me calo?

Confirmamos por e-mail que íamos ao passeio em San Andres. Eu e o Raphael de novo, a gente tá tipo o Greg e o Chris do Todo Mundo Odeia o Chris. Nós tínhamos de fazer o pagamento lá na sede do AEGEE, no campus Elviña da UDC. O AEGEE é tipo uma associação de alunos intercambistas que organizam viagens e promovem a integração dos alunos. Estávamos sem mapa nem endereço nas mãos.
Rodamos feito pião pela faculdade até que, por instinto, encontrarmos a sala do diretório acadêmico da faculdade. Nela, uma moça e um rapaz falavam ao telefone escutavam música e teclavam algo no computador. Pagamento feito, as perguntas básicas surgiram e a conversa começou.

-          Somos do Brasil.... chegamos dia tal… estamos em tal lugar… faço comunicação audiovisual, pero em brasil és periodismo...

Entre as trivialidades da apresentação a menina que mexia no computador a sua frente deu o play em um mp3 que me soou muito bem aos ouvidos. Garota de Ipanema, o clássico para nós brasileiros também é muito apreciado pelos gringos. “Eu tenho uma playlist só de música brasileira, adoro”, comentou a garota espanhola. Ela também confessou que havia feito Erasmus em Portugal. Erasmus é o nome que os europeus chamam o intercâmbio, é o nome de um programa de intercâmbio europeu, mas creio que virou um sinônimo de intercâmbio por aqui.

A gama de assuntos era bem diversificada e todos os quatro que estavam na sala participavam do assunto. Lula e Dilma, Feijão, Caipirinha e os nomes dados ao limão em cada país (e que eu não lembro mais) era conteúdo da nossa pauta.  João Gilberto, Tom Jobim, Gilberto Gil e Tribalistas já haviam dado o ar da graça por meio da playlist da garota. Mas sem que eu esperasse um Xú-Xú-Xú... Xá-Xá-Xá emanou das caixas de som e agrediram meu ouvido. Eu não queria acreditar, foram nove horas de avião até Portugal e mais duas horas e meia num jatinho onde quase me caguei nas calças para isto? Não pode ser. Para piorar o rapaz espanhol sentado ao telefone se manifesta e mostra ser um rapaz alegre.

- Xú-Xú... Xá-Xá-Xá – Bradou alto o meninão que, como não bastasse cantar o refrão desta infeliz melodia, ainda socava o ar no ritmo de cada silaba pronunciada. Foi uma visão muito peculiar, pra não dizer bizarra. Um cidadão de cerca de trinta anos, na Espanha, cantando uma música da Xuxa como se fosse o hino do seu time de futebol. Foi de assustar.

Percebendo minha cara de assustado o rapaz alegre me pergunta: “A Xuxa é muito famosa no Brasil?”. E agora... falava o que pensava ou preservava minha educação? Pensei em responder: “sim amigo é muito famosa, mas a gente para de cantar as músicas dela quando cresce, ou quando para de frequentar as festinhas infantis dos amigos do prezinho”.

Mas é claro que minha educação falou mais alto. “Si, si... mucho y aqui, también?”. Como dizem vingança é um prato que se come frio, não é. O rapaz declarou que amava a Xuxa e que cresceu assistindo ela, como todos nos anos oitenta e noventa aqui na Espanha, e em todos os países com uma programação de TV de extremo mau gosto.

Conversamos mais um pouco sobre a Xuxa e fui obrigado a responder o que não sabia, coisas sobre a Xuxa. Ele me disse que até hoje marmanjos da idade dele (perto dos trinta anos) ouviam Xuxa numas festas e cantavam e dançavam (foi bom saber disse, já sei quais festas devo dizer não). Disse a ele que até hoje era muito famosa no Brasil e que tinha um programa na TV e tal, mas não me apetecia falar do presente. O que queria era falar do passado sombrio da Rainha dos baixinhos (e altinhos espanhóis).

- Conhece muito da Xuxa? Sabe das coisas do inicio da carreira dela? – Perguntei.

- Humm, acho que não, o que ela fazia?

- O quê? Não sabe da história que ela era acompanhante e fazia uns filmes estranhos? –Sem dó nem piedade, acredito que a verdade deve ser dita.

- Eu não. - Respondeu e riu, me olhando fixamente achando que era um piada.

 - Si, si... ella fez unas películas que nosostros en Brasil llamamos de Pornochanchadas. – Eu não sei falar espanhol direito, mas misturando o pouco que sabe com um pouco de português eles entendem.

Xuxa em Amor Estranho Amor

- No creo! – Exclamava o rapaz, que neste momento já não era tão alegre.

Eu como bom carrasco continuei. Contei dos inúmeros processos que Xuxa movia contra sites da internet e até contra o Google no objetivo de tirar o filme de circulação. Contei também que tinha visto parte desse filme e que ela pegava um garoto de 15 anos. A partir daí não precisei falar muito mais coisa. A expressão do rapaz era de tristeza, tinha a cara de quem descobriu que um casamento de trinta anos escondia um passado muito sujo, e na verdade era quase isso. Com o clima cada vez mais tenso e eu sem vontade de ver gente grande chorando, nos despedimos dos amigáveis espanhóis e caminhamos satisfeitos até o ponto de ônibus.

- Esses espanhóis são gente boa né Raphael?

- Pá caralho cara.

- São meio loco também né? Pô gostar de Xuxa já é foda, mas com trinta anos... tá loco.

- Nem fale cara, sou muito mais o Serginho Malandro.

No caminho de casa, dentro do ônibus fiquei pensando como tenho a sorte de ser sempre o primeiro a revelar coisas legais da vida dos artistas para algumas pessoas. Sempre quando fala do passado Trash da Xuxa ou da perna de pau do Roberto Carlos acham que estou mentindo. O quê? Vai dizer que não sabia que o Rei Roberto Carlos tem uma perna de pau?